sexta-feira, outubro 21, 2005


Regresso à Casa do Amor

"We had the world, we had it all in the palm of our hands", ouve-se em "Maybe You Know" – um tema destinado a exorcizar pesadelos. Canção-chave de uma das mais aguardadas reuniões de sempre da música pop.

A revista Mojo considera-os o maior esquecimento das bandas da segunda metade da década de oitenta. Exagero? Talvez não seja para muitos trintões que gastaram as agulhas do prato rodando, vezes sem conta, "Christine", "Destroy the Heart" ou "Shine On". Falo-vos dos britânicos The House of Love.

Guy Chadwick fez as pazes com Terry Bickers. "Days Run Away" foi editado a 28 de Fevereiro. É o novo álbum de um projecto que deixou saudades, na segunda metade dos anos oitenta, naquele espaço de tempo entre o fim dos The Smiths e o nascimento dos The Stone Roses. Nessa altura, a dupla Chadwick (voz e guitarra) e Bickers (guitarra) causava furor, coadjuvada por Andrea Heukamp (voz e guitarra) que deixaria a banda pouco depois do arranque em 1986, Pete Evans (bateria) – que está de volta, e Chris Groothuizen (baixo).

Com os singles "Shine On" (Maio) e "Real Animal" (Setembro de 87), davam os primeiros passos na mítica Creation Records. Em 1988, o agora quarteto, devido à saída de Andrea, editava o primeiro disco com "Christine" à cabeça. Um ano depois, Chadwick e companhia mudam-se para a Fontana, lançando "Never" e "I Don’t Know Why I Love You". No final desse mesmo ano, Bickers deixa o grupo, muito por culpa da ambição desmedida de Chadwick. O segundo álbum nasce na sequência desse amargo episódio. E com ele o êxito de "Shine On" – reeditado com nova roupagem. O substituto de Bickers, Simon Walker, tem passagem rápida pelo projecto, dando lugar a Simon Mawby.



Até o fim dos The House of Love, em 1994, ainda haveriam de ser compostos dois novos discos (se esquecermos "Spy in the House of Love" – uma recolha de lados B): "Babe Rainbow" (que procurava ser uma resposta a "Screamadelica" dos Primal Scream) e "Audience with the Mind" (o menos bem recebido de todos), corria o ano de 1993.

Onze anos, ONZE (!) longos anos depois estão de volta. O primeiro single "Love You Too Much" ("Skies Alive" no lado B) foi lançado no início do ano.

"Days Run Away" é a segunda oportunidade, talvez a última, para um projecto que roubou o nome a uma das obras de Annaïs Nin. Como muito apropriadamente titulou o jornal The Guardian numa entrevista à dupla Chadwick/Bickers, "You only live twice".

Os The House of Love são, conclui o periódico britânico, "um exemplo do que pode correr mal quando bandas jovens são queimadas pelas expectativas. Chadwick viu a história repetir-se com os Stone Roses e, mais recentemente, com os Libertines, enquanto Bickers sugere que deveria haver uma espécie de ‘rede de apoio’ a bandas colocadas sob os holofotes". Mas, ambos, é claro, apreciam uma segunda oportunidade e Bickers promete, desta vez, "não queimar dinheiro" (como o fez há quase quinze anos numa tourné do grupo). A questão é saber se desta haverá ou não dinheiro para queimar.

O futuro volta a ser promissor.


Ligações:
http://www.thehouseoflove.co.uk/
http://www.artandindustry.co.uk/
http://hem.passagen.se/nyholm/hol.html
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